REFLORESTAMENTO E BALAS DE CANHÃO NO PÃO DE AÇÚCAR

REFLORESTAMENTO E BALAS DE CANHÃO NO PÃO DE AÇÚCAR

O Morro Pão de Açúcar, icônico monumento natural localizado na entrada da Baía de Guanabara, com seus 396m de altitude, ocupa posição de destaque na geografia carioca, formando belo conjunto com os Morros da Urca e Cara de Cão. É tombado desde 1973 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) por sua importância na paisagem cultural da cidade, fundada ao seu lado em 1º de março de 1565. Foi inserido em 2002 na Lista Indicativa Global de Sítios Geológicos, que indica monumentos de excepcional valor universal, como o “cartão postal geológico do Brasil”.

A harmonia entre a paisagem natural e as intervenções realizadas pelo homem tornam o Rio de Janeiro uma cidade singular, tanto na esfera nacional como internacional. A UNESCO reconheceu essa singularidade em 2012, concedendo-lhe o título de “Patrimônio Mundial – Paisagem Cultural Urbana”, na qual está inserida o Pão de Açúcar.
Por outro lado, a face leste do Pão de Açúcar, infestada por capim colonião, era vitimada por incêndios periódicos, com grande prejuízo para a vegetação nativa, que diminuía a cada nova ocorrência, com reflexos negativos também para a fauna de pequeno porte. Fui testemunha de alguns incêndios, pois frequentava a face leste desde meados dos anos 1980, quando me mudei para o Rio. Inconformado com essa situação, decidi agir.

Comecei ajudando o casal Nóbile Rocha e Sática Murakami, que já atuava em outra parte da face leste, e adotei minha primeira área em 2002. Cerca de um ano depois, em 2003, um grande incêndio queimou quase toda a área do Grotão, também na face leste, sendo mais uma vez o capim colonião o propulsor do incêndio. Foi o incentivo natural para iniciar a recuperação também da metade dessa área (o casal citado acima adotou a outra metade). Em 2004 iniciei com o Centro Excursionista Rio de Janeiro (CERJ), o reflorestamento do Paredão Lagartinho, uma área de cerca de 500m² de encosta íngreme na face sul do Pão de Açúcar. Nesse local foram realizados um mutirão de plantio/manutenção por mês, durante cinco anos, com os montanhistas do CERJ. Iniciava-se assim uma tradição que se ampliou para outros locais do MoNa Pão de Açúcar, Unidade de Conservação municipal criada em 2006, e que permanece até hoje.

Um aspecto inusitado desse trabalho foi ter encontrado várias munições de canhão íntegras, cilíndricas e redondas, além de muitos fragmentos, o que trouxe um aspecto arqueológico ao reflorestamento. As munições íntegras foram recolhidas pelos militares da Fortaleza de São João, localizada na Urca, e estão expostas em um museu do local.

No dia 20/09/2010 assinei com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMAC) o 1º Termo de Adoção, oficializando a parceria informal existente desde 2002, e que hoje totaliza 2,5 hectares de encostas adotadas.

O Projeto Pão de Açúcar Verde, abrigado no Instituto Ecoflora de Atividades Ambientais, vem ajudando a devolver a Mata Atlântica ao Pão de Açúcar, com sua majestosa beleza cênica. Sinto grande satisfação ao ver a diversidade de espécies predominando novamente nas áreas adotadas, além do enriquecimento de espécies realizado em outras áreas MoNa Pão de Açúcar através de centenas de mutirões de plantio realizados. Esse resultado não teria sido possível sem a participação dos incontáveis e anônimos voluntários, incluindo os montanhistas, quando foi necessário transportar mudas pelas encostas, do apoio dos gestores do MoNa Pão de Açúcar e dos parceiros, que entenderam a importância da nossa Missão. Minha gratidão a todos

Fotos: Crédito das fotos:
-Foto1 (balas de canhão): Gabriel de Paiva / Agência O Globo
-Foto2 (grupo com as mudas na encosta): Christina Bocayuva / Projeto Pão de Açúcar Verde
-Foto3 (foto aérea do Pão de Açúcar): Custódio Coimbra
Foto4: Projeto Pão de Açúcar Verde
Foto5: Projeto Pão de Açúcar Verde

Domingos Sávio Teixeira
Ambientalista-Projeto Pão de Açúcar Verde