História Oral e Envelhecimento

História Oral e Envelhecimento

O dossiê “História Oral e Envelhecimento” é organizado por Juniele Rabêlo e Lívia Lima para o novo número da Revista História Oral, publicado em junho de 2021. Contempla estudos sobre os processos de envelhecimento utilizando, na interface memória social e trajetórias de vida, a metodologia de história oral. Reune textos que contribuem para os debate públicos sobre a temática – implicações científicas, sociais, políticas, históricas e culturais – ao considerar as mudanças ocorridas no curso da vida que caracterizam a experiência contemporânea. A preocupação com o envelhecimento e com a melhoria da qualidade de vida na sociedade brasileira muda a sensibilidade investida na velhice e a reflexão para o reconhecimento da pluralidade de experiências. O livro “Memória e sociedade: Lembranças de velhos”, publicado por Ecléa Bosi no final dos anos 1970, é uma das principais referências para a história oral no Brasil. Seu tema e sua abordagem continuam relevantes e são inspirações para o presente dossiê. Paul Thompson (1972) e Luisa Passerini (2011) refletiram sobre a importancia dos trabalhos de história oral atentarem para as experiências da velhice, pois muitas vezes o processo de envelhecimento não é abordado, ou não se compreende adequadamente as ressonâncias de “tornar-se e ser velho/a”.

Observamos nas últimas décadas o crescente envelhecimento da população brasileira, que atualmente representa cerca de 14% da população. No debate sobre políticas públicas, em momentos eleitorais e até mesmo na definição de novos mercados de consumo e novas formas de lazer, o idoso é um sujeito que não está mais ausente do conjunto dos discursos produzidos. A visibilidade conquistada pela velhice se traduziu em uma série de iniciativas por parte de agências governamentais e de organizações privadas visando um envelhecimento adequado. Esse envelhecimento ressignifica os lugares da velhice e produz novas demandas sociais, políticas e econômicas seja sobre o indivíduo que envelhece como também sobre a sua família, o Estado e a sociedade em diferentes formas e desafios do envelhecer.

Nesse novo cenário, a preocupação com o envelhecimento e com a melhoria da qualidade de vida na sociedade brasileira muda a sensibilidade investida na velhice e propõe outras reflexões para o reconhecimento da pluralidade de experiências nessa fase da vida. A pessoa idosa é o agente social protagonista do processo de envelhecimento populacional e deve ser considerada a partir de sua inserção em um mundo por ela conquistado. Contraditoriamente, ao mesmo tempo em que a longevidade é desejada e celebrada como uma das grandes conquistas da humanidade é, também, representada, no mundo capitalista, como ônus considerável para a sociedade e o Estado, sobretudo, em períodos de crise, como nos impõe a pandemia do Covid-19. Os pesquisadores, dedicados aos estudos sobre envelhecimento, se pronunciaram sobre como os estigmas que envolvem essa fase da vida foram reforçados no cenário pandêmico, criando as condições para que viessem à tona imagens e tratamentos depreciativos e desqualificadores dos idosos.

Frente aos debates públicos sobre envelhecimento no Brasil, este dossiê é organizado de modo a contemplar artigos que contribuam para avançar na reflexão, bem como na discussão teórico-conceitual e prática dos campos do envelhecimento e da velhice em inter-relação ou de forma independente, sob o ponto de vista da investigação científica e seus percursos metodológicos e analíticos. Desta forma, dar a conhecer as problemáticas e objetivos que orientam a pesquisa, os sujeitos, os lócus (institucionalizados e não institucionalizados, os movimentos, as manifestações dos agrupamentos humanos), os organismos financiadores, especialmente focalizando as contribuições da história oral como prática reflexiva interdisciplinar.

Site da Revista História Oral: https://revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/issue/view/50

Referências bibliográficas
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembrança de velhos.São Paulo: Companhia das Letras, 2005 (Primeira edição 1979).
PASSERINI, Luisa. A memória entre politica e emoção. São Paulo: Letra e Voz, 2011
THOMPSON, Paul. A voz do passado. História oral Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972.

Por Juniele Rabêlo de Almeida – UFF e Lívia Morais Garcia Lima – GEPHOM/ USP