Escutas sensíveis, vozes potentes: diálogos com mulheres que nos transformam

Escutas sensíveis, vozes potentes: diálogos com mulheres que nos transformam

Este título se refere a uma obra que reúne 22 mulheres de diferentes lugares do país, que narram suas histórias de vida. São vozes plurais que desconstroem a versão universal e abstrata de mulher, e revelam trajetórias de construção de si pelo trabalho, pela maternidade, pelo envelhecimento, pela religiosidade, pela transgeneridade, pela política e educação; também pelos enfrentamentos ao preconceito, à violência de gênero e às injustiças sociais.

Jaqueline Gonçalves/Kunã Aranduhá – indígena Kaiowá, estado do Mato Grosso do Sul

Suas vozes foram ouvidas em diálogos que envolveram 38 pesquisadores que fazem uso da história oral e dos debates sobre memórias, gêneros e identidades, abrindo-se ao desafio da escuta dialógica, não apenas com a finalidade de responder a perguntas acadêmicas, mas abrir espaços a demandas que exigem compromisso com a palavra e com sua publicização.

É o que chamo aqui de escuta sensível: o ato contínuo de sentir, pelo diálogo amoroso, o universo afetivo, imaginário e cognitivo de quem narra para poder compreender, de dentro de suas palavras e performances, os significados de valores, emoções, comportamentos e sistemas; deixar-se atravessar por histórias que, mesmo particulares, nos oferecem o mundo com suas representações e relações sociais que afetam suas vidas. E as nossas, uma vez que o encontro, o registro e a análise exigem de nós o cuidado metodológico, mas também a humildade e a delicadeza em relação à existência de quem nos oferece a sua voz, nunca desconhecendo as relações de poder que os envolvem.

Mãe Carmem de Oxum – São Bernardo do Campo – SP

Neste livro “falam” prostitutas, professoras, religiosas, estudantes, vendedoras, e que também são brancas, negras, indígenas, transexuais, velhas, jovens, urbanas e rurais, numa multiplicidade de atravessamentos que nos permitem pensar sobre a diversidade, a interseccionalidade, a decolonialidade, os silenciamentos e as potências do dizer.

Desta forma, o trabalho com história oral pode cumprir um processo importante como produção dialógica e memorial de documentos, sobre relações intersubjetivas que implicam em expor desigualdades sociais e históricas, discriminações de todo tipo, demandas e lutas; todas elas perpassando o corpo, a experiência e a voz de cada mulher. Ao mesmo tempo, cada uma delas nos ensina a escutar e nos toca profundamente; faz das palavras poesia, mesmo que não saiba.

Convido cada pessoa a se deixar tocar por suas histórias!

ROVAI, Marta. Escutas sensíveis, vozes potentes: diálogos com mulheres que nos transformam. Teresina: Ed. Cancioneiro, 2021.

Por Marta Gouveia de Oliveira Rovai