Pintura em afresco é tema de curso oferecido pela Casa de Oswaldo Cruz

IMG_1886
O arquiteto Nelson Porto fala sobre técnicas de pintura à base de cal, durante aula do curso A Arte e a Técnica do Afresco, na COC.

 

O curso A arte e a técnica do afresco da Casa de Oswaldo Cruz (COC) recebeu na última terça-feira, 14 de julho, o arquiteto e urbanista Nelson Pôrto Ribeiro. Em palestra aberta ao público, Nelson abordou o tema “Os suportes das pinturas parietais a base de cal: história, materiais e tecnologia” e ofereceu um material rico e ilustrativo para quem se dedica à produção ou restauração de afrescos, técnica milenar de pintura mural feita sobre a argamassa de cal, ainda fresca da parede, com pigmentos diluídos em água.

A finalidade do curso é garantir a perpetuação dos conhecimentos sobre a técnica do afresco, um dos ofícios tradicionais de construção e das artes integradas à arquitetura, que é o objetivo da Oficina Escola Manguinhos, que integra a COC. Ribeiro apresentou um panorama histórico da técnica e as melhores práticas para a preparação das estruturas para recebimento da pintura, da mistura da cal e pigmentos e os cuidados do arremate e secagem.

Com grande expressão na Europa, principalmente, na Itália, no Brasil, a técnica do afresco ganhou evidência no início do século 20 com as obras monumentais do ecletismo e do modernismo arquitetônico brasileiro. Desse período, destacam-se na cidade do Rio de Janeiro as pinturas de Eliseu Visconti no Theatro Municipal, Cândido Portinari no Palácio Gustavo Capanema e em Porto Alegre, as pinturas de Aldo Locatelli no Palácio Piratini.

No entanto, esta prática vem desaparecendo da produção cultural brasileira face ao desconhecimento progressivo das técnicas artísticas e construtivas tradicionais, em especial com o uso da cal, necessária à prática do afresco.

Mestre em Artes Visuais e doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pós-doutorado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, com aperfeiçoamento, atualmente, Ribeiro é professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e coordena o grupo de pesquisa História da Construção Luso-brasileira. O arquiteto também falou sobre preservação e legado histórico para o site da IV Semana Fluminense de Patrimônio.

Qual a importância de um curso sobre afresco? Esta não é uma técnica anacrônica?

A tradição luso-brasileira, pelo menos no Brasil, utiliza menos o afresco, mas esta é a técnica mais elaborada e sofisticada para trabalhos na argamassa de cal. Uma pessoa que se forma na técnica de afresco com certeza vai resolver todos os problemas das pinturas, barramentos e esgrafiados em cal, que são muitos. Então, vai ser uma mão de obra adequada.

Qual a importância de se formar especialistas na preservação desta técnica e de outras expressões artísticas?

É fundamental para manter nossas tradições e a história, não apenas para a da arte, mas a nossa história social e cultural. A pintura [ou outro tipo de arte] não representa apenas a parte artística, mas também a parte histórica e documental. Uma restauração consciente é capaz de fornecer para as gerações futuras muitas informações que nós no presente não tivemos condições de perceber ou de assimilar. A história não é definitiva, está sempre se refazendo, então, as gerações futuras vão refletir sobre um material de maneira diferente da nossa. Não fazer restauração do material e a preservação do patrimônio, é impedir esse processo.

Além de cursos, que outras ações poderiam ser desenvolvidas para que haja um grupo especializado na preservação do patrimônio?

Oferecer cursos é a ação fundamental. Cursos técnicos como o daqui [Fiocruz], e também cursos de nível superior. Por exemplo, se você for em faculdades brasileira de Belas Artes, apesar de haver a cadeira de restauração, o curso não existe. Na Europa, toda faculdade de Belas Artes e mesmo de Arquitetura tem um curso de restauração. Você pode se formar arquiteto-restaurador. Talvez não tenhamos tanto reconhecimento e quantidade de patrimônio quanto a Europa – só a Itália concentra de 60% a 70% do patrimônio histórico da humanidade – , mas nós temos patrimônio de muito valor também, que precisa ser preservado adequadamente.