Brasil não avançou na recuperação de áreas afetadas por desastres naturais, diz pesquisador

Nos últimos anos, o Brasil praticamente não avançou na recuperação de áreas afetadas por desastres naturais. O diagnóstico foi feito pelo pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) Carlos Machado de Freitas, que proferiu a conferência Mudanças climáticas globais e riscos locais no dia 23 de agosto, no Encontro Fluminense do Patrimônio. De acordo com ele, o País apresentou melhora nos sistemas de alerta para grandes tragédias, porém pouco fez para aprimorar planos de prevenção e de recomposição de locais afetados.

“O Brasil avançou um pouco na capacidade de alerta e resposta imediata aos desastres, mas quase nada na recuperação das áreas afetadas por desastres. Na região serrana (do Rio), até hoje não foi construída nenhuma das casas prometidas”, declarou. Segundo ele, de 70 pontes a seres reconstruídas na região, apenas uma teve as obras iniciadas.

Freitas alertou para o risco de o País desperdiçar a oportunidade de aprender com os acontecimentos recentes para evitar catástrofes no futuro. “Se não fizermos nada hoje, principalmente em termos de prevenção – que está ligada diretamente às políticas de uso e ocupação do solo, às políticas econômicas e aos modelos de desenvolvimento – e de recuperação e construção, daqui a dez ou 15 anos vamos estar no mesmo patamar. A única coisa que vamos ter é uma capacidade maior de resposta imediata, sem amenizar nem resolver o sofrimento daqueles que passam por esses desastres”, disse Freitas.

As mudanças climáticas, segundo ele, são apenas um dos elementos que colocam em risco o patrimônio cultural e natural, como ocorreu recentemente em São Luiz do Paraitinga (SP) e na Região Serrana do Rio de Janeiro. O pesquisador afirmou que é a combinação dos eventos naturais extremos com uma série de outros elementos que acaba desencadeando tragédias como as que aconteceram nessas regiões.

“Parte da nossa vulnerabilidade às mudanças climáticas resulta das alterações do clima, mas também da concentração de grandes contingentes populacionais em áreas urbanas ocupadas de forma bastante desigual. Quando olho o impacto dos eventos no padrão de óbitos e adoecimento, as maiores vítimas são os mais pobres, os mais desprotegidos”, declarou, sobre a maneira irregular como esses eventos atingem as populações.