Um olhar sobre as Bandas de Música na Era Digital

Um olhar sobre as Bandas de Música na Era Digital

Banda de Musica Santa Cecilia Arrozalense – SEC RJ – Foto de Isabela Kassow

Música é uma forte vocação do Estado do Rio, um elemento essencial da nossa identidade cultural. Diversos gêneros tiveram origem aqui, como o Choro, o Samba, a Bossa Nova, o Funk Carioca, entre outros. Desde a “Garota de Ipanema” de Jobim e Vinicius à versão recente da cantora e empresária Anitta, a música brasileira conquistou o mundo nas últimas décadas. 

O Dia Internacional da Música, celebrado em 1º de outubro, foi a motivação para esta reflexão sobre a música no contexto da economia da cultura, a convite da Semana Fluminense do Patrimônio. 

Pelo uso da música em diversas outras expressões artísticas – no teatro, no audiovisual, na dança e até nos games – podemos afirmar que a música é essencial por seu impacto artístico, econômico e social. A música está rádio, no celular, no computador, nas ruas, em lojas ou restaurantes, quando assistimos um filme ou na publicidade.

Centro Cultural Musical de Campos – SEC RJ – Foto de Cris Isidoro

É imenso o potencial de transformar vidas e promover inclusão social e diversidade a partir da música, como provam inciativas como a Ação Social pela Música do Brasil e o programa Volta Redonda Cidade da Música. Há outros mais recentes, como o projeto Harmônicos de Conservatória, organizado pela cantora Juliana Maia em seu Centro Cultural no Sul Fluminense. Crianças e adolescentes participantes dessas iniciativas recebem educação musical e eventualmente um futuro profissional.

A admiração pela música brasileira ainda não se reflete, contudo, na presença de brasileiros nos palcos na Europa e nos Estados Unidos, os principais mercados globais. Em um ambiente dominado pelo consumo digital, também não temos representantes nas listas de artistas mais ouvidos no Spotify, YouTube e outros aplicativos ou plataformas de música, com raras exceções. Faltam estratégias e ações governamentais de apoio à exportação da música brasileira.

Alunos de música – SEC RJ – Foto de Isabela Kassow

Nas últimas décadas, as expressões musicais passaram a ser reconhecidas como Patrimônio Imaterial em diversos países, algo muito positivo. É um resultado de políticas elaboradas em instituições como a UNESCO. O Samba do Recôncavo Baiano, por exemplo, foi reconhecido em 2005 pelo organismo internacional. “É uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva das mais importantes e significativas da cultura brasileira”, segundo o registro do IPHAN. Essas iniciativas ecoaram nas esferas municipais e estaduais, que passaram a reconhecer como Patrimônio Imaterial gêneros musicais e manifestações, incluindo o Funk Carioca. 

Banda de Música Santa Cecília Arrozalense, Alvir Teixeira. Foto Isabela Kassow – Mapa de Cultura – SEC RJ

Foi também o caso das Bandas Civis de Música no Estado do Rio. Em 2009, foi lançado o programa “Banda Larga”, da então Secretaria Estadual de Cultura. No mesmo ano, uma lei reconheceu 95 bandas como “entidade sem fim lucrativo que contribui para a formação cultural e divulgação da arte no Estado”.

Passados 12 anos do lançamento do programa “Banda Larga”, qual é a realidade das bandas civis e escolas de música sediadas na Região Metropolitana e no interior, ou mesmo na capital? São Sociedades Euterpes, Grêmios Musicais e outras associações, algumas centenárias, que enfrentam dificuldades para manter suas atividades. Muitas, infelizmente, encerraram as atividades nos últimos 10 anos.

É bom lembrar que o mercado global de música gravada superou os 21,6 bilhões de dólares em 2020, segundo a IFPI, federação que reúne as principais gravadoras.  O Brasil registrou o maior crescimento na América Latina no ano passado. Em um paradoxo, o Sindicato dos Músicos Profissionais (SindMusi) aponta que a situação para a maioria dos músicos é dramática. Essa realidade se repete nas escolas de música e sociedades euterpes.

Vamos celebrar o Dia Internacional da Música chamando a atenção para a urgência de ações efetivas de preservação das bandas civis e escolas de música no Estado do Rio, e de um plano de apoio e capacitação dos músicos para a indústria cultural dominada por ferramentas digitais. Unindo empresas, governo, universidades e as comunidades de cada município, é possível ampliar a função social da música.

Viva a Música!

*UNESCO é a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura.

Capa: Instrumento SEC RJ- Foto de Isabela Kassow

Saiba mais:

Ação Social pela Música do Brasil
https://www.asmdobrasil.org.br/

Volta Redonda Cidade da Música
https://www.projetovrcidadedamusica.com.br/

Harmônicos de Conservatória
Espaço Sonora e Centro Cultural Juliana Maia
www.instagram.com/harmonicos_de_conservatoria

Fotos do Mapa de Cultura
https://www.flickr.com/search/?user_id=70289661%40N07&view_all=1&text=

BIBLIOGRAFIA

Portal do IPHAN
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/56
[Acessado em 29/09/2021]

UBC: dados da IFPI
http://www.ubc.org.br/Publicacoes/Noticias/17762
[Acessado em 29/09/2021]

Por Leo Feijó, jornalista e produtor cultural. Foi Coordenador de Música e subsecretário de Cultura do Estado do Rio entre 2016 e 2018. É diretor da Escola Música & Negócios. Contato: leofeijo@esp.puc-rio.br