Registro do Choro como patrimônio cultural do Brasil

Registro do Choro como patrimônio cultural do Brasil

O pedido de Registro do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil foi encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pelo Clube do Choro de Brasília e pela Casa do Choro do Rio de Janeiro e foi considerado pertinente pela Câmara do Patrimônio Imaterial, dando assim início à instrução técnica deste processo.

Isso implica em assegurar que o bem cultural seja descrito e documentado de forma sistemática e detalhada, partindo de um levantamento dos dados bibliográficos, museológicos, arquivísticos e sonoro-visuais já disponíveis; prossegue sistematizando referências que atestem sua continuidade histórica; e reúne, por meio de pesquisas de campo, depoimentos e entrevistas com os detentores, documentação fotográfica e videográfica, referências do atual estado da arte da manifestação cultural.

O objetivo é detalhar os principais processos de produção, fruição, circulação e transmissão de práticas e saberes, identificar praticantes, associações, apoiadores e práticas culturais relacionadas, além de um relacionar os desafios a serem superados, com o objetivo de recomendar ações de salvaguarda.

O resultado da pesquisa é sintetizado em um dossiê e um videodocumentário sobre a expressão cultural e, por fim, o processo é encaminhado à avaliação do Conselho Consultivo do Iphan para fins de titulação.

Considerando que o processo de Registro é de natureza participativa, interativa e integrativa, a colaboração e a participação ativas dos próprios chorões são fundamentais, pois não somente constituem os principais interlocutores na pesquisa, como também detêm o código simbólico que rege os sentidos e significados dessa expressão cultural que se estende ao modo de vida e impacta o cotidiano das pessoas.

Entretanto, essa instrução técnica teve início no mês de março de 2020, justamente no contexto da pandemia provocada pelo Corona vírus, que obrigou a medidas de prevenção e cuidado recomendadas pela Organização Mundial de Saúde. Em virtude dessas ações protetivas, recorreu-se aos meios e redes virtuais para dar prosseguimento ao processo. Trata-se, na verdade, da primeira instrução técnica de um processo de Registro inteiramente realizada on-line, o que impôs desafios e limitações, mas que, por outro lado, ofereceu benefícios, favorecendo encontros, nas plataformas digitais, de detentores encontrados nas cinco regiões do país.

Numa primeira frente de trabalho, buscou-se um levantamento de monografias, teses e dissertações, artigos e livros que já tivessem se dedicado às diferentes vertentes de pesquisa e documentação sobre o choro. Paralelamente, a pesquisa documental buscou mapear os acervos, fontes e documentos de referência que pudessem subsidiar a dimensão histórica do Choro, tanto no que diz respeito à sua presença no Brasil quanto às influências que amalgamaram uma criação musical singular.

Uma segunda frente de trabalho dedicou-se à mobilização social das comunidades detentoras do Choro por meio virtual, com o objetivo de apresentar o projeto, a metodologia de trabalho, a equipe de coordenação da pesquisa, prestar esclarecimentos a respeito do processo de registro e angariar apoio ao processo de identificação do bem cultural, o que ressalta a anuência e a mobilização dos detentores no sentido do encaminhamento do pedido do Registro do Choro como Patrimônio Cultural do Brasil.

Numa terceira frente de trabalho, foram realizadas entrevistas, rodas de conversa e seminários temáticos com chorões, pesquisadores e interessados no tema, de diversos estados do país. As diversas formas de um diálogo amplo com os chorões possibilitam a participação dos detentores na construção coletiva da descrição da prática cultural, de suas matrizes históricas e normativas, assim como do estado da arte na atualidade. Desse modo, é possível compreender como conceituam seu fazer e saber, as regras que presidem os processos de criação, composição e performance musicais, bem como as diferenciações internas, os enfrentamentos e dilemas que os desafiam.
Vale finalmente salientar que a relação com o Iphan não termina com o Registro como Patrimônio, mas tem prosseguimento com ações conjuntas de promoção e sustentabilidade para a salvaguarda da expressão cultural.

Por Elisabeth Costa, Setor de Pesquisa, CNFCP/IPHAN